top of page

Escrever, entre ousadia e temor

Atualizado: 23 de mai. de 2022


Eu sempre gostei de histórias, sempre as criei. Eu era aquela criança que durante as viagens em família ficava olhando para fora e fantasiando um cenário geralmente mais interessante do que o que se passava dentro do carro.

Durante minha infância não era difícil para mim sair do quintal de casa e me encontrar em outro planeta, numa floresta, ou num trem. Para minha sorte geralmente eu tinha a companhia de minha irmã mais nova. Para o azar dela, eu era melodramática e não foram raras as vezes em que minhas histórias a fizeram chorar. Desculpe irmã!

Já na vida adulta, eu fui contadora de histórias algumas vezes. É um prazer indescritível ir em uma escola e conseguir envolver as crianças num conto. Esses momentos são para mim um lembrete do prazer infinito da leitura e da fantasia.

Mas há uma grande distância entre ler livros - para si ou para alguém - ou fantasiar em sua própria mente e escrever, compartilhando com outros algo de muito pessoal.

É claro que durante a minha formação na Faculdade de História eu escrevi bastante. Em muitas outras ocasiões eu pude, ou tive que produzir muita coisa. Mas nada se compara ao processo de criação de Berenice da Capadócia.

Ainda que apenas eu conheça essa história, todo o tempo personagens, escritora e leitor dialogam em minha mente. Não preciso dizer que a parte escritora é a mais fácil! já os personagens são fruto de minha imaginação, portanto eu os conheço bem. Mas, e o leitor?

Aliás, antes de tudo, quem me outorga o título de escritora? Como a prensa de Gutenberg é coisa do passado, hoje escrever e lançar um livro está ao alcance de qualquer um, mas um escrevedor é um escritor?

Pois quem determina isso é o leitor. Porque se for só pelo prazer da escrita, é possível imprimir apenas um exemplar, guardá-lo na gaveta com chave e nunca mostrá-lo a ninguém. Quem publica quer compartilhar, quer ser lido. Mas quem quererá ler?

Estou convencida de que é preciso uma boa dose de ousadia, afinal muito provavelmente ninguém, nem o autor mais bem sucedido, sabe se sua próxima história vai agradar.

Eu sempre digo que há um leitor para cada um livro e a única forma de encontrar esse leitor é publicando. E a única forma de saber se a história é boa é submetendo-a ao julgamento do leitor. Eu não estou falando de críticos literários ou de especialistas. Estou falando do elemento mas importante nessa cadeia, o leitor comum, aquela pessoa que circula nas livrarias, nas bibliotecas e que procura aí algo que o encante, que o satisfaça ou mesmo que o ajude a transpor algum momento difícil de sua vida; e isso é muito sério: muitos de nós foram tão impactados por um livro que mudamos nossa forma de pensar e ver o mundo.

Isso causa um certo temor. Até onde eu posso ir em minha narrativa? Minha História emocionará ou poderá mesmo afetar a vida do leitor? E no mar de títulos disponíveis hoje, Berenice da Capadócia é uma gota.

Para ser honesta com você, eu nem mesmo sei se deveria estar me fazendo tantas perguntas. Mas você há de compreender e ser indulgente comigo: eu sou uma contadora de histórias e minha imaginação me acompanha a cada instante de minha vida; então não é nenhuma surpresa que para publicar meu livro eu crie toda uma história.

Mas são justamente a ousadia e o temor que me impulsionam e me permitem acreditar que a única coisa a fazer é compartilhar minhas histórias com quem quiser ouvir. E se você está lendo essas palavras, então eu encontrei o meu leitor.

2 Comments


A. Martins
A. Martins
Mar 05, 2020

Eu estava exatamente pensando nessa historia hahaha

Like

Alessandra Dea
Alessandra Dea
Mar 05, 2020

Obrigada pela parte que me toca, chefe Pipi na Cabeça!!! Na verdade, você sempre foi muito boa em contar histórias, mesmo que algumas me fizessem chorar... S2

Like
Prancheta 1logo_pluma_littera.png
2020
bottom of page